3 momentos históricos em que a arquitetura inspirou desfiles de moda
Existem várias maneiras da moda e da arquitetura dialogarem entre si. Seja quando arquitetos utilizam características das grandes coleções de moda ou o contrário: quando estilistas se inspiram nos projetos arquitetônicos para criarem coleções, como fez Guo Pei, em 2018.
A arquiteta grega Viktoria Lytra, diz que a função da moda e da arquitetura é a mesma: abrigar os corpos. Em seu blog, ela cita Coco Chanel – “A moda é como a arquitetura: pura questão de proporções”. As duas partem do mesmo ponto: é a partir da estética que se cria o design de uma roupa e o de um edifício.
Arquitetura e Moda: para além do ocupar e do vestir
Podemos afirmar, então, que os ambientes dizem muito sobre quem os ocupa. Da mesma forma, moda é estilo de vida. Assim, arquitetura e moda vão além do ocupar e do vestir. Os dois campos artísticos têm a ver com identidade, política e comportamento.
Por exemplo, os traços simples de Oscar Niemeyer expressam a ousadia e pioneirismo da Arquitetura Moderna de forma revolucionária. Do mesmo modo, a minissaia, nos anos 60, anunciava a mudança do comportamento dos jovens, num mundo pós-guerra.
Foi pensando nisso que trouxemos três exemplos sensacionais de quando a arquitetura e a moda se inspiraram e o resultado foi pura arte, beleza e exuberância. Confira!
1. Gui Pei para a Haute Couture Collection – Fall/Winter 2018
A designer chinesa, famosa pelo vestido amarelo da Rihanna no MET Gala de 2019, se inspirou no que denomina “qualidades imutáveis” dos monumentos góticos, para uma de suas coleções mais notáveis. Desse modo, é do interesse de Guo Pei promover um diálogo entre o corpo humano e a dimensão espacial.
Numa relação muito próxima com a arquitetura, os tecidos são desenhados por Guo Pei para imitar igrejas, abóbodas, torres, rendilhados de janela cheios de detalhes e outras formas impressionantes. Em 2018, a artista explicou, de forma minimalista, a intenção de sua arte: “O tempo flui sem pressa, enquanto a arquitetura permanece imutável”.
Suas roupas criam, então, formas impressionantes quando projetadas no corpo. Para arquitetos e obcecados por arquitetura, deve ser um deleite observar o design da estilista!
2. Coleção Comme des Garçons – Spring 2015 Ready-to-Wear, de Rei Kawakubo
Quando afirmamos que arquitetura e moda não se tratam apenas de ocupar e de vestir, não estamos apenas jogando com frases de efeito.
Em 2014, para a coleção de primavera de 2015, a designer de moda Rei Kawakubo lançou a coleção Comme des Garçons. Assim, um vermelho rosa e um vermelho papoula, que variaram bem pouco, marcaram a coleção da estilista.
Essa coleção de Kawakubo iniciou uma tendência. Muitos críticos repetiram que o ano era 2014, porém, seu aspecto vanguardista no mundo fashion, o fazia parecer com 1914. E isso não é por acaso. Tem toda uma história por trás, que apenas olhos clínicos foram capazes de decifrar.
Com essa coleção, a artista japonesa fez uma crítica social ferrenha. Mas Rei Kawakubo não militou de forma óbvia. Não escreveu textão nas redes sociais. Não fez discurso. O que ela fez foi uma peça conceito imitando o design do Museu em Holon, de Israel. No design da roupa, além do vermelho papoula, havia, também, um capuz preto sinistro.
Agora, vamos de história! 1914 marca o início da 1ª Guerra Mundial. Em 2014, ocorreu a Guerra de Gaza, em Israel, após o sequestro e assassinato de três jovens israelense pelo Hamas. Percebemos, assim, que a estilista fez um paralelo entre os dois eventos históricos.
Viu?! Quando a arquitetura e a moda se juntam, fique de olho, porque tem conceito!
3. Coleção Maria Bonita, de Danielle Jensen, inspirada em Lina Bo Bardi
E é claro que vai ter arquitetura e moda brasileira por aqui!
Em 2010, a coleção de inverno da Maria Bonita, idealizada pela estilista Danielle Jensen, foi inspirada pela arquitetura, lá dos anos 80 e 90, de Lina Bo Bardi. Assim, as construções pesadas, em concreto, da arquiteta ítala-brasileira, foram o ponto de partida das criações de Jensen.
O modo como a designer de moda traduziu os projetos arquitetônicos de Lina Bo Bardi para a coleção foi apresentando costuras expostas conectando blocos de tecidos, se assemelhando ao patchwork. Desse modo, tules e tecidos metalizados futurísticos marcaram o estilo contemporâneo das peças.
Quanto à cartela de cores, a estilista optou majoritariamente pelo cinza, representando o concreto e o asfalto da arquitetura de Bo Bardi. Assim, azul claro, verde musgo, vermelho e preto também se ressaltaram, enfatizando o aspecto urbano da coleção.
A geometria, com quadrados, círculos e aplicações prevaleceram nos looks. Da mesma forma, fendas e sobreposições marcaram a coleção, principalmente, nas peças assimétricas que chamaram a atenção para os ombros, nos vestidos. Também, a alfaiataria e o caimento reto foram um destaque.
As vigas aparentes nos designs da estilista brasileira, tanto como a geometria e cores, traduzem, explicitamente, a influência da arquitetura de Lina Bo Bardi. É um orgulho ter duas brasileiras tão talentosas nos representando no mundo da arquitetura e da moda.
Alguns dos prédios que inspiraram o desfile da coleção Maria Bonita
Uma curiosidade é que o desfile da coleção Maria Bonita aconteceu no Sesc Pompéia, cujo prédio foi um projeto de Lina, e pelo qual recebeu, inclusive, prêmios póstumos em 2021. O prédio era, originalmente, uma fábrica e a partir de seu olhar criativo, a arquiteta viu ali, um potencial.
Observando a imagem, é possível visualizar o conceito da coleção desenhada por Jensen. Portanto, pode-se afirmar que o caráter futurístico, urbano e vanguardista das roupas é o mesmo do projeto arquitetônico de Bo Bardi.
Sesc Pompéia, em São Paulo
Além disso, quem nunca ouviu falar no MASP? Aposto que todo mundo já foi ou já ouviu falar no Museu de Arte Moderna de São Paulo. E, adivinha? É também um projeto de Lina Bo Bardi. A arquiteta o idealizou, também como uma praça, pois queria uma integração ao que era interno e externo ao museu.
MASP, São Paulo
Legal, não é mesmo?
A arquitetura atua diretamente nos espaços de moda
A arquitetura não é rígida e não atua apenas com projetos de edifícios e monumentos. É muito comum, atualmente, ver a colaboração de escritórios de arquitetura em projetos ligados diretamente à moda.
A OMA (Office for Metropolitan Architecture), por exemplo, possui uma longa parceria com a Prada. Inclusive, criou a cenografia futurista para o desfile de inverno de 2022 da marca.
Projeto da OMA para o desfile de inverno de 2022 da Prada
Achamos muito interessante a conversa entre as várias artes. Isso mostra o quão plural é o mundo. Além disso, nos provoca a pensar mais profundamente naquilo que vemos. Quem diria que um desfile de moda carregaria um tom político tão forte quanto o de Rei Kawakubo?
Como dizia Lina Bo Bardi, a arquitetura não deve ser apenas as construções, têm que ser sobre pessoas. É sobre isso. Tudo na cidade conta uma história. Da roupa da moda àquela igreja da praça que você gosta – há por trás pessoas, projetos, conceitos e sonhos. Por isso, tenho certeza de que agora você vai andar mais atento por aí, não é mesmo?
A Metal Nobre está sempre atenta ao que há de mais atual na arquitetura, na moda, e na arte em geral, para continuar sendo fonte de informação e oferecendo as tendências de mercado.
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